"Quando desceu o riacho, mantilha na cabeça e coração aos pulos, Maria da Glória não sonhava que quele encontro fortuito com o macho da aldeia iria marcar para sempre a sua vida. Esperava sair dali com namoro anuciado e quem sabe até casamento marcado. Saiu à pressa, com a roupa ensanguentada, as entranhas viradas e a semente de Maria da Purificação na barriga.
Estava lançado o destino de das mulheres desta familia na qual as palavras prazer, carinho, paixão e amor permanecerão para sempre num mistério."
A Minha Opinião:Confesso que o que mais me levou a ler este livro não foi a Sinopse mas sim a Autora.
Antes de ler pesquisei um pouco sobre a saída deste livro para o mercado e qual não é o meu espanto a maioria dos comentários que encontrei eram bastante negativos e feitos por pessoas que já estavam a "matar" o livro mesmo sem o lerem só por ser da Júlia Pinheiro.
Pois bem, fazem muito mal. É óbvio que não é uma grande obra literária, mas é um excelente livro sendo o primeiro dela.
Não é um romacezito todo "cor de rosa" cheio de histórias dos seus programas (como já li nas tais criticas).
É a história inicia-se nos anos 30, uma época em que as mulheres eram apenas objectos e serviçais. Maria da Glória tem de se desenvicilhar dos problemas que arranjou e consegue fazê-lo, mas vai vivendo sempre num suplicio de culpa e ódio o que a torna uma pessoa amarga e sem qualquer tipo de amor para dar, mesmo à sua filha Maria da Puficação, mas esta cresce e os tempos são outros, já há mais um pouco de amor, mas mesmo assim é um amor que é "provocado" Sociedade de um Estado Novo, num país em que tudo é proíbido. Depois vem Maria Clara, filha de Maria da Purificação, uma criança que vê a sua familia desintegrar-se de dia para dia, sem perceber muito bem porquê numa altura em que tudo passa a ser permitido com o 25 de Abril, as mulheres passam a vestir calças e a poder fazer tudo aquilo que lhes apetece. Maria Clara com a ajuda da Avó e da Mãe consegue seguir com a sua vida apesar de todos os fantasmas que a assombram. Então nasce Benedita, filha de Maria Clara...
"Iniciou a vida sexual aos 14 anos com um colega de colégio, um "beto" como ela. Foi o primeiro de vários relacionamentos sem paixão ou sentimento. Na esfera social de Benedita, estes relacionamentos cirúrgicos não podiam chamar-se "curtes" ou "amizades coloridas". Eram amigos que exploravam a sensualidade sem deixarem que os corpos encontrassem o caminho para a transcendencia. E antes de serem adultos já eram indiciduos marcados pelo desencanto. Não era um bom augúrio." (pag. 335)
Durante o relato das vida destas mães e filhas a autora vai-nos relatando como era o nosso País nessas épocas e quais a repercussões que isso tinha na vida das sua personagens. A autora retrata muitissimo bem a nossa sociedade e faz referências a pequenas coisas que já nem nos lembramos delas por termos hoje em dia tanta escolha, como as Pastilhas Gorila e os Livros da Anita que eram as delicias das crianças (as minhas eram mesmo!!!!). Para além disto tudo mais uma coisa muito importante, a história desenrola-se practicamente toda em Castelo Branco, a minha cidade ;)
Bom, nem me vou alongar mais, gostei bastante e se sair mais algum livro da Julia Pinheiro irei lê-lo de certeza!